sábado, 20 de setembro de 2008

33 Esculturas de Brennand em Porto Alegre

'Brennand: Uma Indrodução' faz parte do projeto Centro Cultural Banco do Brasil Itinerante e tem curadoria de Olívio Tavares de Araújo. A mostra é composta de 33 esculturas, 17 pinturas e 9 desenhos, selecionados entre as mais de 1700 obras presentes na Oficina da Várzea, próxima a Recife, onde o artista cria e mantém suas obras para visitação pública.

Segundo o curador Olívio Tavares de Araújo, a década de 70 marca a transição, na obra do artista, de uma pintura vinculada à religião e à cultura nordestina, como são os casos de Sexta-Feira da Paixão (1959/1961) e Tigre (1965), para uma escultura que destaca figuras da mitologia, formas sexuais e mulheres regidas pelo sofrimento, características essas presentes nas décadas seguintes. Essa mudança ocorreu após a criação, em 1971, da Oficina da Várzea, que foi adaptada de uma fábrica semi-abandonada do pai do artista.

Os trabalhos que compõem a exposição são inspirados no sofrimento e dor, com esculturas dramáticas, femininas e sexuais. As mulheres, um dos focos principais do trabalho do artista, são lembradas por suas vidas perturbadas e sofridas, como as de Antígona (1978), Lara (1978), Diana Caçadora (1980), Hália (1978), Maria Antonieta (1993), Helena de Tróia (1995) e Joanna d’Arc (1997), sempre em torno das dores da existência.

"No ano passado, uma enciclopédia brasileira incluiu pela primeira vez um verbete sobre Francisco Brennad. Assegurou então que ele "busca inspiração na arte sacra e no folclore nordestino". Está errado. É verdade que na década de 1960 o ainda-pintor Brennad se voltou transitoriamente para essas duas matizes, mas nem de longe elas aparecem na escultura, que é a parte mais importante de sua produção. A informação está com quase 50 anos de atraso.

O habitat natural dessas obras é a Oficina Brennand, a 20 quilômetros do centro do Recife. Por um lado é uma indústria cerâmica, que fabrica objetos decorativos e revestimentos de alta qualidade. Por outro, é uma espécie de enorme museu, a maior parte a céu aberto, com mais de 1.700 esculturas espalhadas por galpões e jardins. Trata-se de um trabalho sem final, um work-in-progress, um projeto de vida, visto que Brennand, utilizando a mesma argila de que se serve a indústria, continua produzindo e aumentando a população da Oficina.

É uma arte estranha, dramática, com muita morbidez e violenta carga de sexualidade - não de erotismo, que é outra coisa. Tem-se a sensação de estar em algum monumento da antiguidade oriental. Um templo ou palácio mesopotâmico, talvez, construído há 3.000 ou 4.000 anos. Já houve quem, em visita a este espaço, tirasse os sapatos para "absorver melhor a energia" brotando da terra. Por certo não há nenhuma energia diferente, nem Brennand é um bruxo habitando um lugar especial. Mas é o impacto é tão grande que as pessoas começam a viajar.

São centenas de personagens da história antiga e da européia, da mitologia greco-romana, da Bíblia. O que os interliga, todos, são seus destinos particularmente trágicos, sangrentos. O verdadeiro tema de Brennand, tratado obsessivamente e à exaustão nas obras capitais, foi e continua sendo o destino trágico do homem, sua infelicidade essencial, hoje como ontem e amanhã". Olívio Tavares de Araújo, Curador da Exposição

Brennand: uma Introdução
Museu da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(Av. Osvaldo Aranha, 277, Bom Fim, Porto Alegre)
Visitação: terça a domingo, das 9 às 18h, até 28/9