quarta-feira, 3 de novembro de 2010

OLHARES Sobre a Montagem de Godard

Sábado, dia 6 de novembro, acontece o encontro do montador e professor Milton do Prado com o cinema de Jean-Luc Godard. Símbolo da Nouvelle Vague, na década de 60, Godard tratou a arte, a política, o consumo, os mitos e a religião como linguagem, revolucionando a história do cinema. De personalidade inquieta, o cineasta, autor de obras como Acossado e Je Vus Salue, Marie, mudou várias vezes junto com o seu cinema, mantendo sempre a obsessão pela desconstrução das narrativas tradicionais. Na ocasião, haverá a exibição do filme O Demônio das Onze Horas (Pierrot Le Fou, 1965), seguido de debate.

Segundo Milton, Godard se firmou na história do cinema como um iconoclasta. Intelectual e militante, o cineasta franco-suíço definiu, como um dos membros mais ativos da Nouvelle Vague, vários dos traços transgressores associados ao grupo. Isso o faz ser geralmente lembrado pelas rupturas que promoveu, mas nem sempre por uma de suas mais marcantes qualidades: a de construtor de formas. O encontro servirá para entender e discutir sobre a técnica e o processo de montagem de Jean-Luc Godard.

Contaminando o cinema com a literatura, a pintura, a pop art, o vídeo, a música, entre outras manifestações, Godard expandiu os limites da expressão fílmica como poucos, traçando um dos mais ricos percursos cinematográficos que se tem conhecimento. Esse trajeto expressivo sempre teve na montagem um aliado poderoso, dos cortes abruptos de Acossado (À bout de souffle), passando pela colagem de O Demônio das Onze Horas, até chegar em projetos mais ambiciosos como a série História(s) do Cinema.

Milton do Prado trabalha com montagem cinematográfica desde 1997. Natural de Aracaju (Sergipe), a faculdade de Jornalismo o trouxe a Porto Alegre e para os primeiros estágios em cinema. Dirigiu um curta, "O Velho do Saco", com Amabile Rocha, mas foi na montagem que sedimentou seu trabalho. Atualmente é montador, professor do Curso de Realização Audiovisual da UNISINOS, faz mestrado em Film Studies na Concordia University (Montreal) e já ministrou curso sobre a Nouvelle Vague. Colunista do blog “Amor Louco”, de sua autoria, e da Revista Teorema. É responsável pela montagem do longa-metragem “A Última Estrada da Praia”, de Fabiano de Souza, lançado este ano no Festival de Gramado.

O projeto Olhares Sobre o Cinema acontece há três anos, com o objetivo de refletir sobre o cinema, narrativas e técnicas. Tem apoio da Associação Amigos do Museu Julio de Castilho, sendo realizado pela produtora Curta o Circuito Produtora, em parceria com o Museu Julio de Castilhos e Secretaria do Estado da Cultura.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Antonioni em Porto Alegre

Sábado, dia 16 de outubro, acontece o encontro com o diretor gaúcho Fabiano de Souza e o cinema de Michelangelo Antonioni. Cineasta italiano falecido em 2007, Antonioni tem suas bases no cinema social neo-realista, mas foi a partir dos filmes de temática intimista, como A Aventura, A Noite e O Eclipse, que ganhou notoriedade. Seu mais badalado filme, no entanto, é Blow-Up, conhecido no Brasil como Depois Daquele Beijo. Marco da contracultura, a linguagem usada no suspense deste filme marcou a década de 60.

Em Blow-up, a maneira como Antonioni aborda o feticismo pela imagem, através do erotismo, da moda, da música, revelam os mistérios e desejos de uma geração, dando até hoje o que falar. Mas a trama não é simples, pois a ação está no espaço entre os personagens, no entra e sai de cena, naquilo que a câmera ora revela, ora esconde.

Segundo Fabiano, “Antonioni é o diretor que ensina que todos os elementos do enquadramento devem trabalhar na composição da imagem. Pintura em movimento, o cinema do realizador italiano pulsa, berra, enquanto seus personagens ficam quietos, atônitos, diante de uma realidade que se transfigura em problemática existencial.” Para o debatedor, Antonioni ajudou a abrir novos paradigmas para toda uma geração. “Antonioni discutiu os problemas da nossa época demarcando os limites do próprio ser humano perante o mundo - o que são os livros perante a morte? O que é o real perante a imagem? O que é o cotidiano perante o prazer efêmero?”, destaca. “Dentro desse universo em permanente queda, ele - como ninguém - filmou espelhos, escadas e paisagens. E mais do que tudo, mulheres. Não por acaso, chamava-se MICHELANGELO.”, brinca Fabiano.

Olhares sobre o cinema acontece há três anos, com o objetivo de apresentar novas reflexões sobre o cinema, narrativas e técnicas. O Ciclo Diretores promove três encontros sobre diretores cujos filmes se destacam pela arte, a direção e a montagem, respectivamente. O encontro no sábado, dia 16, visa apresentar reflexões sobre a estética, estratégias e processo criativo de Antonioni, com a exibição de um filme e debate.

Fabiano de Souza é professor da Faculdade de Comunicação da PUCRS, nos cursos de Produção Audiovisual e Publicidade e Propaganda. Doutor em Comunicação Social pelo PPGCOM da PUCRS. Editor da Revista Teorema - Crítica de Cinema, onde já escreveu sobre Abel Ferrara, Marco Belocchio, Spike Lee, e outros. Roteirista e diretor de cinema e TV, com filmes como "Um Estrangeiro em Porto Alegre" (1999), "Cinco Naipes" (2004) e "A última Estrada da Praia", seu primeiro longa-metragem, lançado este ano no Festival de Gramado.

Olhares sobre o cinema – Ciclo Diretores tem apoio da Associação Amigos do Museu Julio de Castilho, sendo realizado pela produtora Curta o Circuito Produtora, em parceria com o Museu Julio de Castilhos e Secretaria do Estado da Cultura.

Encontro Olhares Sobre o Cinema – Ciclo Diretores
Dia 16/outubro | A Direção de Antonioni
Sábados, das 13h às 18h | Museu Julio de Castilhos – Porto Alegre
Inscrições pelo site www.curtaocircuito.art.br.
Mais informações: (51) 3024-2337.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

UM OLHAR Sobre Cronemberg

Abrindo a rodada de encontros do seminário Olhares Sobre o Cinema – Ciclo Diretores, o crítico de cinema e escritor Enéas de Souza ministra a aula sobre o cineasta canadense David Cronenberg.

O cineasta dos instintos, se assim poderíamos definir Cronenberg, amante das formas híbridas, do corpo que se funde ao tecnológico, cujos filmes “A Mosca” (1986), “Crash“ (1996) e “Spider” (2002), são algumas das suas realizações mais comentadas, vem contando histórias em que a carne, sem precisar ser invadida, oferece seu emaranhado de fibras à ambigüidade de registros que perpassam seus filmes.

Segundo Enéas, “Cronenberg faz uma profunda inflexão nos seus dois últimos filmes, “As Marcas da Violência” (2005) e “Senhores do Crime” (2007). Muda a direção de sua pesquisa, como em Spider onde mostrava a psicose como uma condição da nossa época. Agora passa a filmar a violência numa dimensão constante que inscreve a desordem e o caos na aparente calma das cidades, no convívio das famílias. Uma violência mais subterrânea do que explícita, geralmente longe do cotidiano, mas que se infiltra nele. Esta temática gera as cenas do roteiro e permite ao diretor trabalhar a forma do seu cinema, desde a escolha do corpo dos atores até o cenário onde freqüentam os personagens.

Há uma ênfase poética na figuração de certos objetos e elementos físicos do filme, estruturas que dão vigor ao seu trabalho cinematográfico. Todo o brilho do cineasta culmina numa reflexão contemporânea sobre a fragilidade humana e a fortaleza que pode surgir desta fragilidade na resposta de uma ou de outra figura dramática. Porque se o crime é a eminência do gesto diário que nos ameaça, a coragem da fraqueza impulsiona os homens a desvendar minimamente o mundo no qual vivemos. E nele construir a possibilidade de uma tentativa da dignidade de ser. "As Marcas da Violência" e "Senhores do Crime" coordenam o fluxo de acontecimentos nos lugares onde irrompe o sistema oculto e racional da violência, tanto na cidade pequena como na cidade grande, onde a lei é apenas uma fina e exígua lâmina de proteção.”

Olhares sobre o cinema é um projeto que acontece há três anos, com o objetivo de apresentar e propor novas reflexões sobre o cinema. Para este ano, o Ciclo Diretores promove o debate sobre diretores, cujos filmes se destacam pela arte, a direção e a montagem, respectivamente. Serão três sábados, com encontros no Museu Julio de Castilhos (R. Duque de Caxias, 1205).

Encontros:
Dia 2/outubro – A Arte de David Cronenberg
Dia 16/outubro – A Direção de Michelangelo Antonioni
Dia 6/novembro- A Montagem de Godard

Inscrições: www.curtaocircuito.art.br
Mais informações: (051) 3024-2337 - Porto Alegre

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Improvisações Brasileiras

A cpfl cultura apresenta nos meses de setembro e outubro a mostra Improvisações Brasileiras, projeto do artista plástico alemão Helmut Schippers, com curadoria da arquiteta Lilian Heitor. A mostra reúne obras que retratam o território brasileiro visto pelo ponto de vista de Schippers. Paisagens, estradas, cidades, pessoas, são os principais temas que o artista retrata em seus trabalhos.

Segundo Lilian, “Helmut Schippers nesta mostra genial provoca, através do uso incessante das cores e no contexto ‘geométrico-orgânico’, sucessivas pinceladas firmes, com espírito de autodeterminação e de liberdade de expressão espontânea em suas obras. As paisagens brasileiras, as estradas, as cidades e seus ícones de memória, são inesgotáveis meios de expressar diante da abstração a predileção pelos temas, uma escolha peculiar do artista”.

Neste projeto os intermináveis estudos de Schippers chegam à expressividade de uma obra madura. O artista já participou de várias exposições no Brasil, agora, seu objetivo é a integração de todos os pensamentos, resultando esta mostra menos preocupada com a realidade e mais focada na imaginação.

Foram escolhidas cerca de 30 obras do repertório de Schippers que possibilitem a leitura metafórica de resgate dos lugares que evidenciam, para ele, a cultura brasileira. As viagens que o artista promove, possibilitam-no guardar na memória pedaços desta experiência vivida, suas circunstâncias e sua contemplação. Trata-se de um objetivo intuitivo de reflexão que possibilita a integração de patrimônio histórico, de história dos caminhos traçados nas conquistas territoriais e com as artes plásticas. Não revelando a realidade absoluta, mas a imersão abstrata com símbolos que nos remetem ao conhecimento dos lugares de inspiração.

Sobre Helmut Schippers
O artista plástico alemão Helmut Schippers vem desenvolvendo um trabalho de resgate da memória dos lugares históricos por onde passa, em particular Paraty, onde atualmente possui seu ateliê. Com isso, propiciando o conhecimento do observador sobre a produção cultural regional. Sua pintura se destaca na forma de expressividade, com cores intensas e composição abstrata. Helmut já participou de várias exposições no Brasil e agora seu objetivo é a integração de todos os pensamentos e linguagens em um projeto menos preocupado com a realidade e mais focado na imaginação.

Improvisações Brasileiras (Helmut Schippers)

Curadoria: Lilian Heitor
Local: Galeria de Arte cpfl cultura em Campinas. Rua Jorge Figueiredo Corrêa, 1632 – Chácara Primavera.
Visitação: 09 de Setembro a 29 de Outubro.
Horário: de segunda a sexta-feira das 14 às 20h.
Informações: (19) 3756-8000 site http://www.cpflcultura.com.br/site/

terça-feira, 10 de agosto de 2010

A Última Estrada da Praia

Mostra Panorâmica
Festival de Gramado, hoje, às 14h15.

Em outubro de 2007, um grupo de loucos passou duas semanas no litoral gaúcho filmando o longa-metragem A Última Estrada da Praia, dirigido por Fabiano de Souza, co-autor do roteiro, juntamente com Vicente Moreno. Entre esses loucos, apaixonados por cinema, estava Marcelo Adams, dividindo a cena com Miriã Possani, Marcos Contreras e Rafael Sieg, em um road movie  tipicamente gaúcho. Agora, finalmente, o longa terá sua primeira exibição, no Festival de Gramado, na Mostra Panorâmica.

A estréia de A Última Estrada da Praia acontece nesta terça-feira, durante a 38º edição do Festival de Cinema de Gramado. O filme integra a programação da Mostra Panorâmica e será exibido às 14h15 no Palácio dos Festivais.

A película aborda um triângulo amoroso e tem como principal característica, além de ser livremente inspirado na obra “O Louco do Cati”, do escritor gaúcho Dyonelio Machado, a costura do roteiro de passar por diversas praias do litoral gaúcho, também a Trilha Sonora, organizada por Arthur de Faria, com um arranjo inédito de Nei Lisboa, da música de Belchior, “A Palo Seco”.

Com baixo orçamento, poucos atores e uma equipe enxuta A Última Estrada da Praia foi filmado em 15 dias, no sul do Brasil, e tem previsão de lançamento comercial nos cinemas apenas em 2011.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Sinfonia em Paris

Programação mensal da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (APPOA), há seis anos o seminário O Divã e a Tela vem promovendo o diálogo entre a psicanálise e o cinema. A programação acompanha a temática de trabalho da APPOA de 2010: o Ato Analítico. A coordenação é dos psicanalistas Robson de Freitas Pereira e Enéas de Souza, editor da revista Teorema. Nesta sexta-feira, dia 16, às 19h, o filme em debate é “Sinfonia de Paris”.

Construído a partir de canções e composições de George e Ira Gershwin, o musical Sinfonia de Paris (An American in Paris) tem a assinatura do mestre Vincente Minnelli, um dos maiores nomes do cinema norte-americano. O filme conta a história de um ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, agora pintor (Gene Kelly), que ama Paris e vive em Montmartre. Lá, ele conhece uma rica herdeira americana (Nina Foch), que deseja do pintor algo mais que seus quadros. Mas, ao saírem juntos pela primeira vez, ele se apaixona por uma vendedora de perfumes (Leslie Caron), que está noiva.

As sequências de dança são embaladas pela música dos irmãos Gershwin, que acentuam o caráter romântico do filme. O balé final possui 18 minutos de duração, tempo inédito para os padrões de Hollywood. Ele acontece quando o personagem de Kelly entra no mundo da fantasia em busca de sua amada, percorrendo locais familiares de Paris como a Place de l’Étoile, o Mercado de Flores da Madeleine, a Praça da Concorde e um café em Montmartre. São cenários que reproduzem e homenageiam os estilos de seis famosos pintores: Manet, Renoir, Utrillo, Van Gogh, Rousseau, Dufy e Toulouse-Lautrec. Sinfonia de Paris é considerado um melhores musicais de todos os tempos.

Local: Sede da APPOA (Rua Faria Santos, 258 – Porto Alegre)
Mais informações pelo telefone (51) 3333-2140

quarta-feira, 31 de março de 2010

Enquanto a grama cresce

Pior castigo da gripe? Não poder ir ao cinema. Outro dia li um comentário do Burton sobre o Carroll dizendo que, apesar das diversas interpretações, o texto ainda guarda seus mistérios velados, como algo impenetrável no seu todo.  Não sei muito sobre as coisas impenetráveis. Sei que de perto, bem mesmo, muita coisa nessa vida não faz e nem é para ter sentido. Mas se olhado do avesso, pode-se achar um endereço. E se não posso ir ao cinema, porque as vias entopem, vou rever "Kiriku" com o Gui, que anda crescendo muito rápido.

Ontem, sentindo saudades do colo da mãe, que agora acalenta a mana e seus poucos meses de idade, ele disse que não queria virar bicho, quando for para o outro lado. Eu não sabia nada sobre aquilo, mas já fui adiantando "se tu não queres ser, não serás." Mas tu daqui há pouco vai ficar velha e morrer. Eu não quero envelhecer, nem morrer. Quero ser um menino, só um menino. Quase que disse "quando estiver lá, volto para te contar." Mas seria alimentar seus fantasmas, visto que eu viria a ser um. "Daí, já não sei." Baixei a corneta e respirei fundo. "O que sei é o que me dizem, pois não tenho muita experiência no assunto. A minha mãe dizia que morrer era ir para o céu. Ouvi outras histórias depois, mas de tudo que ouvi, me parece que morrer tem mais a ver com mudar de lugar." E o que é mudar de lugar? "É como quando tu eras pequeno, menor do que agora, moravas numa casa, lembras? Hoje moras em outra." Só não quero virar bicho. E durma, eu, em baixo da cama para espantar todos os outros.

sábado, 13 de março de 2010

Alice

Agora a moda é falar de Alice. Alice para cá, maravilhas acolá. Vão explodir Alices por todos os lados, até desbotar. Até tornarem-na vazia. Mas isso, a história de Alice nunca será.

Adverso do mundo Disney, Carroll nunca foi infantil. Houvesse um romance velado, um desejo secreto, ou uma centopéia falante, de verdade, a verdade sempre teve dois lados. Assim como a história de quem escreve, não é a mesma de quem lê. Uma boa história tem este poder, de desprender-se de seu lugar e acalentar o coração de quem a quiser, esteja onde estiver. É como o alpiste para o passarinho, um bom livro para a alma, que não quer sofrer de inanição, ou morrer antes do tempo, no corpo morno de seu tempo.

Mas é preciso querer. Para viver, é preciso ter vontade alada, alheia e sem arreios. Mesmo sabendo das desvantagens, da corrida sem chegada. Diga-me o significado disto ou serás devorado, será? No fim, todos seremos. Mastigados, triturados, alpistes.

Então, por que a pressa? Aos apreciadores dos mistérios, Alice os convida. Pois, não é a vida, uma grande charada? Estou sem tempo e o tempo sem mim. Para os que não leram Alice, as batatas. Antes de que qualquer prima obra diga o que deves ser, vai e lê. E nesse interim de coisas, entre as descobertas e o fim da linha, é possível que encontres outras passagens, que ninguém conta, ou sabe, ou vê.


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Filipe Catto

Desde 28 de janeiro, tenho passado noites ouvindo esse menino. Que líquido seria 'Saga'? Água ardente com açucar na borda, ou uma legítima margarita? Mas é especiaria brasileira. Que drinque seria então? Só bebendo para saber. E eu tenho bebido, quase sempre nos restos de dia, dessa cidade de calor mormaço.

Mas para não entorpecer de vez, fui ao show da Deffenti. O repertório era sobre o amor. E no meio de tanto amor, Adriana cantou "Ressaca", que mesmo no timbre dela, me desceu ardendo. Talvez eu seja caliente e não saiba. Ou talvez, eu esteja. Quem vai mais? Vamos à rumba, ao tango e ao centro, no Odeon tomar uns chopes, ouvir Lupicínio e falar sobre cinema. Havia tempo que eu não fazia isso. O bom filho a casa "torna", para o tubo de seus vinte e poucos anos, de onde já penso em rever o Nito, samba, choro e viola. Filipe me levou a(o) cartola. E se o excesso, dizem, faz mal, que venha a ressaca afinal. Para ouvir e repetir depois de muitas vezes ter repetido, no cantinho do seu ouvido, ouça  http://filipecatto.com.br/download/

Para os queiram curtir Filipe ao vivo e a cores, o show é hoje. Teatro Bruno Kiefer, na Casa de Cultura Mário Quintana, às 20h.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Les Herbes Folles















Não acredito nas fórmulas mágicas ou descrições analíticas, unilaterais, com ou sem estrelinhas, para definir um bom filme. Mas por mais cética que seja, sei que elas existem e influenciam bastante a ida do público ao cinema, mesmo daqueles que sabem um pouco mais sobre o assunto.
Sábado passado fui ver "Ervas Daninhas", de Resnais. Aos que me perguntaram sobre o filme, eu disse "uma fantástica luminária verde sobre o azul". Já quem estava comigo, viu o vermelho, o fascinante e sonhador cabelo vermelho. Tenho que revê-lo urgentemente. Contudo, se dependesse do trailer, eu não teria visto o filme. Mas por algum motivo nada convencional, lá estava eu, na sala de cinema.

Pós filme, essa situação me fez pensar em Van Gogh. A primeira vez que vi um de seus quadros ao vivo, não era um dos que mais gostava. Mas ainda assim, me causou impressões que tão pouco soube definir. A diferença entre esses dois artistas é que Resnais vive, transpira e amadurece cada vez mais o seu cinema. Aproveitar isso é como rejuvenescer a cada dia. E para saber  como, é preciso ter relativa desconfiança daquilo que tomamos por definitivo ou pensamos saber. Das ervas daninhas que cultivamos em nossos jardins, vale à pena sempre uma podada. Como fazer a barba ou cortar a grama. E para que nos serve a grama, mesmo?

Das provocações aos impulsos, Resnais vai nos levando pelo filme, desejos adentro. Se por um lado os personagens parecem completamente guiados por seus impulsos; por outro, o uso das cores, do figurino e objetos de gênero, aliados aos enquadramentos e aos movimentos de câmera típicos do diretor, criam situações que brincam e estimulam a toda hora o nosso imaginário. Deliciosamente, "Ervas Daninhas" é um filme de impressões: da cor sobre nós e de nós sobre os mundos que criamos. Seríamos uma fábula ou um lugar comum contraditório, de medos e desejos profundos?

Talvez eu não precise de férias, concordo com a Ju.Talvez eu precise é de cinema: mais, muito mais do que ando consumindo.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Nosso Estranho Mundo de Jack

Em tempos de eleições, declarações absurdas, escândalos e vídeo tapes, nada mais propício que o “nonsense”. Vamos passear na floresta no outro lado da ponte, onde a claridade não penetra. Meus olhos são sensíveis e é lá onde encontro meus mais íntimos amigos, monstros, heróis e mitos. Eles habitam nosso mundo, estejamos acordados ou dormindo.

Outro dia o Gui perguntou se eu tinha medo do escuro. Como mentir para uma criança de quatro anos? Sim, Gui, eu tenho. "Pois é, tu nunca sabes quando um alienígena pode estar em baixo da tua cama, né?" - Ficção a parte, o alienígena é o super-herói dele, assim como o homem morcego.

Relembrei dessa história, quando li sobre o diretor Tim Burton e sua exposição no Moma que virá para o Brasil. Quero ver esses monstrinhos de perto. Será que convido o Gui? Melhor não, pode ser que o Ben10 sinta-se traído e o retalhe por isso, em uma dessas noites, em que estiver dormindo distraído.

Mas eu menti, Gui. Esconder a cara na coberta não faz com que o escuro vá embora. Ele nos habita, estejamos acordados ou dormindo. Com o tempo e com certa regulagem na lente, aprendemos a ver suas nuances e tirar desse escuro arte - o expressionismo japonês e sua dança de butô que o digam. Para quem não viu ainda, indico: Hanami - Cerejeiras em Flor. Mas já aviso, não é terror. Para isso indico a TV.

domingo, 10 de janeiro de 2010

História(s) do cinema 2

Da poesia concreta, não há nada de concreto,barro ou cimento.
É tudo fluído, prédios de som, imagens e pensamentos.