Os bastidores da produção crítica ganham cores e lugar para debate no curso A Crítica de Cinema, uma conversa sem censura com Enéas de Souza, um dos mais reconhecidos críticos de cinema. Em pauta, a história, a indústria cultural, as novas tecnologias, curiosidades e os desafios de um ofício que, texto a texto, se repensa.
Enéas é uma figura ilustre, um dos expoentes da chamada "nova crítica" que surgiu na década de 60, em Porto Alegre. Período de grandes embates sobre a possibilidade de um cinema brasileiro comercialmente viável, a adesão ao cinema clássico, resistência aos vanguardistas, à importância da autoria dos filmes, a polarização entre os cineclubes e efervescente produção analítica de filmes na imprensa, jornais e revistas independentes. Em 1965, aos 27 anos, Enéas lança o livro “Trajetória do Cinema Moderno”, que posteriormente seria reeditado mais duas vezes, com novas leituras sobre Glauber Rocha e Woody Allen, entre outros.
Os anos passam. Os cinemas de rua fecham, dando lugar aos grandes empreendimentos comerciais. E, assim como o cinema, a nova crítica se restabelece em outro lugar. No embate das novas tecnologias, afinal, o que é cinema?
Enéas, na sua trajetória, mais do que uma análise sobre os ícones do cinema, propõe uma investigação sobre o que é o cinema em seu tempo. Naturalmente que trato de discutir a natureza do cinema, mas ela sempre aparece diferente a cada época, mesmo porque a crítica avança, descobre outros temas, afina as suas idéias. Posso dizer sim que o cinema tem uma natureza histórica. E de outro lado, veja, o cinema não é o mesmo, principalmente porque a tecnologia se altera, se renova. O cinema de Murnau não usa a mesma tecnologia de David Lynch. E em cima do estado tecnológico do cinema os grandes cineastas inventam novas formas de expressão. Cabe, então, a crítica se renovar para alcançar o entendimento e a inteligibilidade de cada novo momento da História do cinema.
Numa iniciativa que integra o programa do Ciclo Olhares Sobre o Cinema, Enéas ministrará o curso A Crítica de Cinema que acontece de setembro a outubro, com aulas sobre o cinema e seus eixos de relação quanto a sua concepção como arte, indústria, imagem e memória. O objetivo é apresentar um panorama sobre as tendências da crítica contemporânea, ao mesmo tempo em que fornece subsídios para o aluno desenvolver um pensamento mais avançado sobre os fatores que envolvem e promovem a boa articulação de um filme.
Dos quatro eixos que serão trabalhados (arte, indústria, imagem e memória) o foco estará no processo da produção crítica, do crítico como espectador e seu papel social. E junto com a produção crítica o que precisa ser discutido são os autores que provocam, por conseqüência, estas novas formas de crítica. Assim, haverá uma análise continuada de diversos artistas como Godard, Abel Ferrara, Truffaut, Michael Mann, Fassbinder, João Moreira Salles, Eduardo Coutinho, Scorcese, Orson Welles, Hitchcock, Eisenstein, Almodóvar, Cronenberg, Visconti, Fellini, Olivier Assayas, etc. Enfim, realizadores do cinema clássico e realizadores do cinema moderno e contemporâneo. As aulas serão desenvolvidas a partir de debates abertos com base numa relação de filmes a ser entregue aos alunos. Naturalmente, uma discussão on line também será estabelecida com a turma, durante o curso.
Virtual Ritual
Há um ano
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