terça-feira, 8 de março de 2011

Horas de Verão, de Olivier Assayas

 Isabel Ferlini

O filme “Horas de Verão”, de Olivier Assayas, sucesso na programação da 32ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, chega às locadoras de Porto Alegre.

Escrito e dirigido por Olivier Assayas, "Horas de Verão" questiona o valor da herança material e emocional, para as gerações seguintes. Com a morte da mãe, três irmãos vêem-se envolvidos com a herança de uma coleção excepcional de arte do século XIX, preservada  na casa de campo, onde passavam suas horas de verão.

Entre os diversos encontros que se sucedem, os irmãos Adrienne (Juliette Binoche), uma designer que mora em Nova York, Frédéric (Charles Berling) economista e professor universitário em Paris, e Jérémie (Jérémie Renier), um empresário dinâmico que vive na China, passam a confrontar o final da infância, as memórias partilhadas, a visão sobre passado e futuro, descobrindo que não têm mais tantas afinidades assim. A vida e os relacionamentos, tal com as obras de arte, se transformam com o passar do tempo.

A história em torno desses personagens parece simples. Os dramas pessoais são revelados aos poucos nos diálogos. Da mesma forma, trazem a presença da casa e do tio falecido. Cada pintura, artefato, móvel art décor e canto da casa contam uma história, revelam segredos, fazendo dela um personagem à parte, numa região coberta de vegetação e lirismo.

Sobre a situação sócioeconômica, "Horas de Verão" pode ser visto como um lamento do diretor pelo descaso à memória cultural francesa. No filme, os personagens principais são a nova geração de uma família que descende da aristocracia francesa e estão na posse de alguns artefatos inestimáveis de importância nacional, mas de alguma forma a ideia de dividir os pertences é tão universal. O nacionalismo parece navegar num processo de luto (arte e história) para a globalização, que nunca está satisfeita - e que existe com magra qualidade do material, apesar do denso e longo alcance do espaço que ocupa.

Filho do roteirista Jacques Rémy (1910-1981), Assayas começou no cinema como crítico da revista “Cahiers du Cinema”, em 1979, quando ainda era estudante. Em 1985 assinou o roteiro de “Rendez–Vous”, de André Techiné, exibido na 10ª Mostra Internacional de São Paulo. No ano seguinte, dirigiu “Désordre”, seu primeiro longa. Seus demais trabalhos são conhecidos pelo público paulista graças à Mostra. Com exceção de “Clean”, de 2004, com o qual ele concorreu em vão à Palma de Ouro em Cannes.

Para Assayas a revista “Cahiers du Cinema” foi uma escola, pois considera fazer cinema e pensar cinema uma mesma coisa, como duas etapas de um mesmo processo criativo. Não por acaso, tenta responder em seu cinema, questões que herdou como crítico. Com Horas de Verão, ele focaliza a atenção nas vidas internas secretas de mulheres, sem deixar de fazer perguntas duras que são universal a ambos os sexos: Onde está o lar? O que fazemos nós com as posses de gerações agonizantes? Lugares e objetos sustentam um tipo de vida emocional depois que os donos originais os abandonaram? Famílias podem ser sustentadas por gerações em um mundo onde ninguém fica mais no mesmo lugar por mais de alguns meses?




Onde encontrar: E o Vídeo Levou.

Um comentário:

Erick Santos disse...

Erick Santos

Sempre que vou ao cinema lembro do conselho de Duchamp, com referencia a arte, que diz "é preciso atravessar o espelho da retina", o cinema como a sétima arte requer de nós mais do que o "ver", seja numa fábula ou uma história real necessitamos nos despir de todo preconceito e tomarmos posse daquilo que vemos, o que assistimos fez ou fará parte de nossa história.

O simples fato de sentarmos de frente da grande tela seja pra rirmos e esquecermos das coisas que nos entristece, seja pra namorar, discerne este espaço como o lugar dos sonhos dos momentos bons, das lágrimas derramadas de emoção do brilho da tela refletido no olho de quem esta do lado, vemos pela grande janela desta arte tão antiga e tão nova personagens com quem nos identificamos, amigos, colegas de trabalho enfim alguém que em algum momento nos marcou positiva o negativamente.

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