Acontece nesta sexta-feira a pré-estréia do filme 'Moscou', última produção de Eduardo Coutinho, às 19h, no Santander Cultural.
O cineasta Eduardo Coutinho virou sinônimo de um documentário capaz de derrubar certos mitos que envolvem o gênero, entre eles o da “verdade absoluta” que, na teoria, deveria ser perseguida pelo formato.
Em "Moscou", Eduardo Coutinho vai além na sua investigação e rompe qualquer linha que possa existir entre o real e o encenado. O cineasta propôs ao grupo mineiro de teatro Galpão documentar o ensaio da peça "As Três Irmãs", clássico russo de Anton Tchecov. Já o diretor do ensaio foi escolhido pela trupe: Enrique Diaz, com quem eles nunca haviam trabalhado.
No decorrer de três semanas, a equipe do Galpão é levada por Diaz, através de exercícios, a se apropriar dos personagens do dramaturgo russo. Os exercícios embaralham vida pessoal dos atores e instância ficcional dos personagens, dando ao espectador a almejada sensação de instante imediato. Em determinado momento, os atores lidam com memórias alheias, evidenciando que o ato de lembrar implica numa “ficcionalização”. Ponto em comum e já explorado em “Jogo de Cena”.
Mas em “Moscou”, Coutinho parece mais interessado na desconstrução da arte: observar o teatro por partes, em cenas fragmentadas, desconstituídas de cenários e personagens sem figurinos, sendo o que importa é o processo do ator. E nesse sentido, Coutinho tem um encontro feliz com o teatro de Enrique Diaz – diretor que, nos últimos trabalhos, pegava personagens de alguns dos mais consagrados dramaturgos (Shakespeare em Ensaio.Hamlet; Tchekov), e tentava desmontá-los junto com seus atores, como quem procura dentro daquelas peças/personagens/pessoas algum segredo original que explique o fenômeno de sua própria existência – mas também de sua comunicação com as pessoas através dos séculos. Na mão contrária, ele estava traçando, portanto um caminho paralelo ao de Coutinho, que partindo de “personagens reais” vinha tentando cada vez mais desmontá-las como tal, como que para descobrir de seu lado também algum segredo original da comunicação.
Numa série de cenas quase independentes umas das outras, Coutinho (e Diaz) exploram todas as possíveis variações deste mesmo mistério. Ora pegam falas escritas por Tchekov lidas por atores interpretando personagens, ora pegam atores falando de sua própria experiência, ora intercambiam até realidade e memória se dissolverem na narração de quem conta a história, seja sua ou de personagem. E, nesses momentos, as fotografias são um dos elementos fortes. Numa das primeiras cenas, um rapaz mostra uma fotografia e diz ser de Moscou. Ele conta que morou na capital russa e, quando voltou, anos mais tarde, sentiu muita dor ao ver o cinema que freqüentava sendo demolido.
Moscou, tanto a cidade como a palavra, é para os personagens a perda de um sentido para o futuro, ou preso no passado. E, daí, a poesia, a angústia de cada um. E, ao mesmo tempo, de todos nós. Um projeto inacabado por uma impossibilidade parece ser o sentimento mais presente neste filme.
Moscou
Pré-estréia e sessão comentada com Eduardo Coutinho
Sexta-feira, dia 4 de setembro, às 19h
Santander Cultural
Virtual Ritual
Há um ano
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