Não acredito nas fórmulas mágicas ou descrições analíticas, unilaterais, com ou sem estrelinhas, para definir um bom filme. Mas por mais cética que seja, sei que elas existem e influenciam bastante a ida do público ao cinema, mesmo daqueles que sabem um pouco mais sobre o assunto.
Sábado passado fui ver "Ervas Daninhas", de Resnais. Aos que me perguntaram sobre o filme, eu disse "uma fantástica luminária verde sobre o azul". Já quem estava comigo, viu o vermelho, o fascinante e sonhador cabelo vermelho. Tenho que revê-lo urgentemente. Contudo, se dependesse do trailer, eu não teria visto o filme. Mas por algum motivo nada convencional, lá estava eu, na sala de cinema.
Pós filme, essa situação me fez pensar em Van Gogh. A primeira vez que vi um de seus quadros ao vivo, não era um dos que mais gostava. Mas ainda assim, me causou impressões que tão pouco soube definir. A diferença entre esses dois artistas é que Resnais vive, transpira e amadurece cada vez mais o seu cinema. Aproveitar isso é como rejuvenescer a cada dia. E para saber como, é preciso ter relativa desconfiança daquilo que tomamos por definitivo ou pensamos saber. Das ervas daninhas que cultivamos em nossos jardins, vale à pena sempre uma podada. Como fazer a barba ou cortar a grama. E para que nos serve a grama, mesmo?
Das provocações aos impulsos, Resnais vai nos levando pelo filme, desejos adentro. Se por um lado os personagens parecem completamente guiados por seus impulsos; por outro, o uso das cores, do figurino e objetos de gênero, aliados aos enquadramentos e aos movimentos de câmera típicos do diretor, criam situações que brincam e estimulam a toda hora o nosso imaginário. Deliciosamente, "Ervas Daninhas" é um filme de impressões: da cor sobre nós e de nós sobre os mundos que criamos. Seríamos uma fábula ou um lugar comum contraditório, de medos e desejos profundos?
Talvez eu não precise de férias, concordo com a Ju.Talvez eu precise é de cinema: mais, muito mais do que ando consumindo.
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