domingo, 13 de fevereiro de 2011

Tio Boonmee

Isabel Ferlini

Uma poesia experimental onde um boi não é apenas um boi. O filme abre assim, com o choro de um boi-touro. Um animal tão imponente, amarrado a um tronco de árvore. Nem dia nem noite, o boi solta-se e  atraído por uma força maior, que nos é desconhecida, adentra a floresta. Aí, o filme nos amarra à sensível presença das coisas, objetos e imagens. A Floresta é um personagem exuberante, de vegetação fechada, nevoeiros, criaturas e sons.

O personagem de Tio Boonmee é um senhor que, doente, refugia-se numa cabana para passar seus últimos dias de vida. Rodeado pela floresta e longe da civilização urbana. Uma noite, quando janta com sua irmã, recebe a visita de um fastama e uma criatura da floresta. Tio Boonmee reconhece neles seu passado. A partir daí, Lendas e fantasia confundem-se com a realidade. Ora fazem parte dela, "criaturas que sempre ouvimos e nunca vimos", diz o filho para o pai. Ora, elementos de passagem de um mundo para o outro.

A forma poética do diretor Apichatpong para mostrar o invisível, é o que encanta. Dentro da floresta, que uiva e chora, há uma caverna. A cena da entrada de Tio Boonmee nela, revela seu íntimo para nós. Tio Boonmee serve de intérprete, ao mesmo tempo em que coloca luz sobre outras partes da caverna. Ele nos ajuda a ver melhor. Enxergamos ao que nos é anunciado, ouvimos outras ao som de sua voz e o seguimos com a sensação do boi, atraído por uma força maior e desconhecida, mas íntima de Apichatpong.  'Tio Boonmee' é um filme fantástico de caráter mítico e pessoal. A força de sua poesia, no entanto, parece universal.


http://www.youtube.com/watch?v=iHeD7mA8CO0

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