segunda-feira, 21 de março de 2011

CINEMA EXPERIMENTAL

“Viver efetivamente é viver com a informação adequada”, já dizia Norbert Wiener. Na era da tecnologia da informação, onde somos orientados a armazenar o máximo possível de dados, ao invés de vivenciá-los, refletir e construir conhecimentos, a arte experimental pode ser vista como uma resistência favorável para a ação do agir para mudar.

Mais fácil de elucidar isso, é retroceder o olhar sobre, por exemplo, a vanguarda russa cinematográfica da década de 20, quando Eisenstein e Vertov produziam audaciosos experimentos fílmicos. Sem suas descobertas, o cinema tal como conhecemos hoje, não existiria. E, sobre esse ponto de partida, cabe um olhar pausado sobre o que chamamos de cinema normal e experimental, ou de vanguarda, nos dias de hoje. Se este é o que contribuiu para a existência do outro, porque nos parece mais palpável o normal ao experimental?

Anos de dominação política, econômica e publicitária explicam bem isso. A transformação da arte em produto de consumo em grande escala, ou a negação do valor da arte como produto autônomo, é uma via perigosa de mão dupla, cativa do pensamento conservador que soterra a contribuição, ou mesmo a existência das vanguardas, sobre o efeito visual do ‘novo’ modelo, onde não há modelo, pois tudo é arte. Soltas as cordas de sustentação da ponte, a travessia torna-se flutuante. Ou, sob o novo aspecto, desnecessária. Para que refletir, se tudo é arte?

No entanto, o mesmo pensamento que projeta o esvaziamento do fazer pensar, tem necessidade de controle, de enquadrar, nomear, denominar. Assim, é comum e cômodo identificar o objeto pela negação, em contraposição ao já estabelecido, ao tradicional, ao clássico. A arte perde sua autonomia e passa a existir pelo que ela não é.

Nada contra a negação, pois ela é o primeiro sintona de interação, de que algo foi sensibilizado. Saber o que é, será o próximo passo. Contudo, se vazia de conteúdo, a inquietação pode ser apenas indigesta. Nada que um sorrisal não cure e faça esquecer, tais quais as Bienais brasileiras.

A tecnologia anda mais rápido que o conteúdo, que é raso, repetitivo e não conversa com o cotidiano do telespectador. Este foi um dos comentários de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (o Boni), um dos pais da televisão brasileira, em entrevista à Marilha Gabriela, no programa Roda Viva.     

Refletir é tão essencial para a sobrevivência da espécie humana que apenas a má-fé ou a alienação podem pretender ignorar. É preciso urgente recuperar a capacidade de questionar e dar vazão as inquietações. E, nesse aspecto, a arte de vanguarda é prodigiosa em sua história, feita por artistas que tem a coragem de alargar a experiência humana. Suas obras são convites à resistência e à celebração.

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