domingo, 6 de março de 2011

O Poderoso Chefão e o pensar cinematográfico

Isabel Ferlini

Às vésperas de completar 40 anos da produção do primeiro filme da trilogia Poderoso Chefão , o ‘Ciclo Olhares Por dentro da trama’ reascende o debate sobre a obra de maior influência na carreira de Francis Ford Coppola (até então, um desconhecido diretor) e, por que não dizer, na história do cinema a partir de 1972.

Sob a supervisão da Paramount Pictures, a audaciosa produção de Coppola é uma adaptação do romance de Mario Puzo (1920-99). Siciliano radicado em Nova York, num bairro pobre e violento de Manhattan e jogador inveterado, quando anunciou a decisão de escrever, Puzo foi tomado como insano. Teve alguns fracassos percorridos, mas desde a obra ‘The Godfather’ (1969) sobre a saga da família Corleone, tornou-se sumidade literária. Muitos de seus livros descrevem a herança siciliana.

Ambientado nas décadas de 40 e 50, o primeiro filme ‘The Godfather’ se tornou um épico, recheado de momentos inesquecíveis do cinema. Cenas como o tiroteio na barraca de frutas, o assassinato no restaurante, Don Vito no canteiro de tomates, toda a sequência de Michael na Sicília e muitas outras, então vivas na memória dos cinéfilos mesmo quase 40 anos depois de seu lançamento.

O filme conta a primeira parte da saga da famiglia Corleone. Comandada pelo respeitado Don Vito Corleone (Marlon Brando), a família mafiosa controla os negócios ilegais na Nova York dos anos 40 e 50, em constantes conflitos com outras famílias e dons. Don Vito tem nos filhos Sonny (James Caan), Fredo (John Cazale), Connie (Talia Shire) e Michael (Al Pacino) e na honra da família suas maiores motivações. A maneira como gerencia os negócios (bussinesse, no melhor inglês com sotaque italiano) com o auxílio dos capos (generais da máfia) e de seu consigliere (Rubert Duvall) é mostrada em detalhes que beiram a perfeição.

Entretanto, a gerência dos negócios pelos mafiosos não se resume apenas a contas e pagamentos. Assassinatos são parte constante desse dia-a-dia. O problema é que Coppola não gosta de violência.  Ele descobriu então uma maneira muito interessante de lidar com os aspectos mais pesados da máfia. O diretor passou a agregar elementos sutis que distraem a audiência (e talvez ele mesmo) da barbárie das cenas mais fortes. Coisas como laranjas rolando no asfalto durante um tiroteio, um pé saindo pelos pára-brisas durante um estrangulamento, formas bizarras de assassinatos, a desobediência aos princípios dos assassinatos e muitas outras, foram incorporadas para dar mais textura à violência. O resultado de tanto esforço foi um filme grandioso, ricamente ilustrado em todos os sentidos.

É por causa dessa riqueza de sentidos que escolhemos o filme para o CICLO. A  bela arquitetura de filmes como O Poderoso Chefão nos permite tanto revisitar suas características clássicas, quanto contrapô-las. E isso é muito importante para o nosso trabalho, no momento em que nos propormos em refletir sobre o fazer e pensar cinematográfico, suas teorias, técnicas, práticas versos a sensibilidade do olhar. Essa sensibilidade que nos permite compreender melhor arte e mundo.

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