terça-feira, 21 de setembro de 2010

UM OLHAR Sobre Cronemberg

Abrindo a rodada de encontros do seminário Olhares Sobre o Cinema – Ciclo Diretores, o crítico de cinema e escritor Enéas de Souza ministra a aula sobre o cineasta canadense David Cronenberg.

O cineasta dos instintos, se assim poderíamos definir Cronenberg, amante das formas híbridas, do corpo que se funde ao tecnológico, cujos filmes “A Mosca” (1986), “Crash“ (1996) e “Spider” (2002), são algumas das suas realizações mais comentadas, vem contando histórias em que a carne, sem precisar ser invadida, oferece seu emaranhado de fibras à ambigüidade de registros que perpassam seus filmes.

Segundo Enéas, “Cronenberg faz uma profunda inflexão nos seus dois últimos filmes, “As Marcas da Violência” (2005) e “Senhores do Crime” (2007). Muda a direção de sua pesquisa, como em Spider onde mostrava a psicose como uma condição da nossa época. Agora passa a filmar a violência numa dimensão constante que inscreve a desordem e o caos na aparente calma das cidades, no convívio das famílias. Uma violência mais subterrânea do que explícita, geralmente longe do cotidiano, mas que se infiltra nele. Esta temática gera as cenas do roteiro e permite ao diretor trabalhar a forma do seu cinema, desde a escolha do corpo dos atores até o cenário onde freqüentam os personagens.

Há uma ênfase poética na figuração de certos objetos e elementos físicos do filme, estruturas que dão vigor ao seu trabalho cinematográfico. Todo o brilho do cineasta culmina numa reflexão contemporânea sobre a fragilidade humana e a fortaleza que pode surgir desta fragilidade na resposta de uma ou de outra figura dramática. Porque se o crime é a eminência do gesto diário que nos ameaça, a coragem da fraqueza impulsiona os homens a desvendar minimamente o mundo no qual vivemos. E nele construir a possibilidade de uma tentativa da dignidade de ser. "As Marcas da Violência" e "Senhores do Crime" coordenam o fluxo de acontecimentos nos lugares onde irrompe o sistema oculto e racional da violência, tanto na cidade pequena como na cidade grande, onde a lei é apenas uma fina e exígua lâmina de proteção.”

Olhares sobre o cinema é um projeto que acontece há três anos, com o objetivo de apresentar e propor novas reflexões sobre o cinema. Para este ano, o Ciclo Diretores promove o debate sobre diretores, cujos filmes se destacam pela arte, a direção e a montagem, respectivamente. Serão três sábados, com encontros no Museu Julio de Castilhos (R. Duque de Caxias, 1205).

Encontros:
Dia 2/outubro – A Arte de David Cronenberg
Dia 16/outubro – A Direção de Michelangelo Antonioni
Dia 6/novembro- A Montagem de Godard

Inscrições: www.curtaocircuito.art.br
Mais informações: (051) 3024-2337 - Porto Alegre