sexta-feira, 20 de maio de 2011

Bruno Polidoro e A Importância de Pensar o OLHAR

por Sonia Montaño*

Entre a cinematografia gaúcha produzida em 2010, um curta chamou a atenção da crítica nacional e internacional. Trata-se do filme Peixe Vermelho, produção independente dirigida por Andreia Vigo, com direção de fotografia de Bruno Polidoro.

O filme tem como referência o cineasta norte-americano David Lynch que esteve em Porto Alegre por ocasião de sua conferência no Fronteiras do Pensamento, em agosto de 2008. Além da obra estar atravessada pela estética surrealista de Lynch, ele próprio tem um protagonismo ambíguo no filme, fazendo mais de um personagem. A obra ganhou 4 prêmios no 38º Festival de Cinema de Gramado: Melhor Produtor/Produção Executiva, Melhor Fotografia, Melhor Edição de Som e Melhor Música e ganhou o prêmio Especial do Júri no 2º Annual Lady Filmmakers Film Festival em Los Angeles. Recentemente, o filme ganhou Menção Honrosa no 17º Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá.

Formado em realização Audiovisual, Bruno Polidoro fez Mestrado em Comunicação na Unisinos, na Linha Mídias e Processos Audiovisuais, com a dissertação “Sobre a Luz e as potências do escuro na fotografia. Imagens técnicas de alcova no cinema”. Segue breve entrevista de Sonia Montaño com ele sobre o sucesso do curta, amadurecimento pessoal e profissional.

Como foi a experiência de ser tão premiado pelo teu trabalho em Peixe Vermelho?

Acredito que o Peixe Vermelho seja um filme não muito usual em nossa cinematografia local. Ele brinca com a desconstrução narrativa, e a produção de imagens sensoriais mais do que descritivas. Assim, construímos um filme de grande liberdade criadora, mas com um trabalho técnico rígido, com amplos estudos e pré-produção. As imagens pulsam, ofuscam e instigam os olhos. Os prêmios, dessa forma, são conseqüências desses efeitos que, felizmente, parecem estar atingindo uma parte do público.

Qual é o principal mérito da obra?

O mais deu certo no filme foi essa conjunção entre liberdade criadora e planejamento na realização. Durante as reuniões conceituais, o roteiro era extrapolado, gerando novas situações, personagens e locações. A partir do momento em que se começou a realizar a obra, passamos a seguir os estudos realizados anteriormente, gravando o filme de maneira sistemática. Essa organização permitiu, ainda, um sopro de intuições no momento da gravação, fazendo com que algumas coisas fossem mudadas na estrutura, a partir do afeto com os personagens, meio e equipe.

Em que sentido a experiência do mestrado e tua participação no Grupo de pesquisa em Audiovisualidades (GPAv) contribuiu para crescer profissionalmente?

Essa pergunta me faço seguidamente. Depois de muita reflexão, acho que posso apontar o que mais me toca quando penso sobre isso. Tecnicamente o mestrado não contribui diretamente para o meu trabalho como Diretor de Fotografia, pois não me trouxe novos domínios de câmera, refletores e coisas assim, com as quais tenho de lidar quase todo dia. No entanto, é imensurável a amplitude de conceitos e ideias gerados pelo mestrado, que me permitiram mudar e questionar a todo o momento o meu olhar. Uma imagem vista nunca mais foi tratada da mesma forma por mim, depois de dois anos debruçado sobre as imagens das minhas alcovas. Assim, também, nunca mais consegui produzir uma imagem de maneira solta, sem um forte olhar crítico sobre ela. Crítico tanto estético, como social, pensando em Flusser.

Assim, com uma densidade conceitual sobre a imagem muito maior do que a que eu tinha antes do Grupo de Pesquisa Audiovisual, consegui me “soltar” mais em meu trabalho. Comecei a arriscar mais, pois tinha capacidade conceitual para defender as propostas talvez “menos clássicas”. E isso se refletiu diretamente na técnica, fazendo com que eu criasse imagens mais livres, com mais pretos, sem medo dos claros extremos. E, se tivesse de responder em uma frase só, eu diria que a maior contribuição para meu trabalho como Diretor de fotografia foi a da compreensão da potência do escuro como sombra. Ah, a sombra, o medo mais corriqueiro dos fotógrafos com seus corpos encarcerados pelos ambientes e refletores.

Além de Peixe Vermelho, Bruno Polidoro foi diretor de fotografia dos filmes: Um animal menor dirigido por Marcos Contreras e Pedro Harres,  recebeu o Prêmio júri oficial de melhor fotografia no FAM 2010 (Festival Audiovisual Mercosul), o prêmio de melhor fotografia na Mostra Gaúcha do Festival de Gramado 2010 e o prêmio de melhor fotografia no Festival dos Sertões 2010. O sabiá dirigido por Zeca Brito, para Histórias Curtas, da RBSTV, que levou a Melhor Fotografia no Prêmio Histórias Curtas 2010.  Enciclopédia, dirigido por Bruno Barreto que levou o prêmio de melhor fotografia no 33º Festival de Guarnicê.

*Entrevista publicada no site do Grupo de Pesquisa em Audiovisualidades e Tecnocultura
em December 29, 2010


BRUNO Polidoro é o ministrante da oficina FOTOgrafia, do Ciclo OLHARes Sobre o CINEMA, que inicia sábado, 4 de junho de 2011. Quer saber mais? acesse www.curtaocircuito.art.br

quarta-feira, 18 de maio de 2011

The Spine

In this animated short, Oscar® winner Chris Landreth returns with a poignant story of redemption that takes us into the relationship between a man and a woman trapped in a spiral of mutual destruction after 26 years of marriage. The Spine continues Landreth's pursuit of a twisted, beautiful and highly original visual aesthetic, using digital imagery to create characters whose physical appearances are metaphors for their unique souls.


terça-feira, 17 de maio de 2011

Linguagem satírica adorável

Jean Renoir foi um grande diretor francês que tratava, através de seus filmes, temas humanos, analisando o comportamento em histórias que prezavam sobretudo a qualidade dos diálogos. A Grande Ilusão, de 1937, foi assim. A Regra do Jogo, de 1939, funciona da mesma forma.

O filme A Regra do Jogo teve uma recepção muito ruim à época de seu lançamento. Apesar de ser  uma comédia sobre o comportamento da classe alta na época que antecedera a Segunda Guerra Mundial, seus conflitos amorosos, com excesso de libertinagem sexual, e algumas das questões morais apresentadas pelo roteiro (que foi escrito, em parte, pelo próprio Renoir) talvez estivessem à frente de seu tempo.

A Regra do Jogo demonstra como a futilidade e alguns problemas humanos não são específicos de uma classe social apenas. O roteiro é feliz ao retratar algumas situações e decisões errôneas entre os ricos e os pobres da mesma forma, mas não deixa de ser perspicaz ao mostrar que a maior das diferenças é que os ricos sofrem e erram com classe e elegância (vide a ótima cena final) – o que não deixa de ser uma síntese da sátira presente em todo o filme. A cena da caça, que ocupa um grande tempo de celulose, é uma demonstração perfeita da ignorância criticada acidamente por Renoir.

O filme possui muitos personagens, o que origina um grande número de situações diversas e, consequentemente, recortadas, picotadas em partes, às vezes ficando incompletas. O excesso dessas situações e de outras intrigas, porém, não atrapalha o desenvolvimento dos personagens.

A cena de caça de Assassinato em Gosford Park, de Robert Altman, é uma homenagem direta à toda a sequência de caça de A Regra do Jogo. Altman foi fortemente influenciado pelo filme de Renoir, principalmente pelo seu tom satírico, demonstrando um pouco da importância do filme para o cinema.